sábado, 25 de dezembro de 2010

Ah...o Natal!!!

Existe no mundo uma minoria de pessoas que, quando chega as datas de fim de ano, entram numa breve e pesada depressão instantânea e sem explicação. Infelizmente, eu faço parte desse seleto grupo afortunado com essa infelicidade. Pois é. Já faz alguns anos que tudo se repete. Nesse ano eu esperava algo diferente, e pra falar a verdade, ainda espero. Pois temos a virada e talvez coquiste meu desejo de não entristecer. Ontem foi 24, a véspera do natal. Ah... o natal! Meus pais não acreditam no natal. Não acreditam que essa data marque o nascimento de Cristo nem nada disso que o povo sustenta ha tanto tempo. Beleza, até aí tudo bem, democracia e liberdade de pensar e agir. Ótimo. Mas porquê então eles compram presentes e desejam "feliz natal"? Porque se confraternizar nesse dia que é tão igual aos outros? Isso, de certa forma, já me afeta negativamente. Ah... o natal. Meu dia foi de muito trabalho e eu fiquei muitíssimo ocupado, porém sem esquecer que o dia era véspera do natal. As pessoas me perguntavam o que eu faria e eu não tinha o que responder, já que não sabia. Eu fico assim, despreparado pra qual tipo de reação vou ter. Oscilava entre ficar sozinho, dormir, sair pro mundo, ir a festas, me embebedar dentro de casa ou na rua, enfim, realmente não sabia. Meu amor está longe e eu não o teria em mais um natal. Ah...o natal. Sai do serviço quase 22h. Em poucos minutos já estava em casa. Minha mãe cumpria seu turno da noite no hospital, que é onde trabalha noite sim, noite não. E meu pai estava estirado no sofá quase cochilando. Entrei em casa...olhei pra tudo ao meu redor. Tinha uma bandeija de salgadinhos na mesa e outra de bolo. Coca cola na geladeira e presentes em cima da cama. Não tive coragem de comer, beber, nem abrir nada. Não deu outra, o quarto foi meu imã e a cama meu refúgio. Lá estava eu deitado. Sem um pingo de sono nem uma gota de ânimo. Uma criançada infernal com o diabo no corpo não parava de soltar rojões e fazer uma zoeira do caralho na minha janela. Ainda assim, por mais repugnantes que fossem, eram melhores do que eu naquele momento. Pois riam e se divertiam enquanto eu estava enterrado na cama. E assim o resto do mundo na rua também ria e se divertia com a chegada do natal e a espectativas de uma noitada a mais sem ter que acordar cedo noutro dia. Quem dera eu nesse clima. Um amigo me ligou, Newton, vulgo "Morto", perguntando o que eu ia fazer da vida. Ele estava junto com outro amigo, um dos mais pinguços da "turma", que um dia foi TURMA sem aspas. Ele ligou e eu não atendi. Deixei o telefone tocar até cair. Passados alguns minutos... chorei. Lágrimas escorreram sem razão alguma e minha mente dava um tour por momentos do meu ano, viagens que fiz, momentos bons, alguns angustiantes, acontecimentos recentes e vagou...vagou...vagou...me aterrorizando, me provocando. O meu destino estava sendo traçado em ficar ali naquela cama até pegar no sono em meio ao tiroteio de foguetes que ocorriam no lado de fora. Dai resolvi dar um basta. NÃO era justo que eu fizesse isso comigo mesmo. Liguei para o Morto que prontamente atendeu. Ele ia para a casa do seu irmão e ia dar um tempo por lá, depois resolveria se ia sair ou não, enquanto o Mainar estava, como de costume, jogado na vida disposto a qualquer coisa. Nisso já eram onze e tantas. Decidi que iria sair ao encontro do Mainar. Enquanto arrumava a cama ouvi movimentos do pai pela casa. Fiquei numa imensa dúvida entre colocar camisa de manga cumprida ou uma regata. Seria mais simples uma de manga curta, que resolveria o problema, mas eu era uma pessoa dificil naquele intante. No fim, optei pelas duas. Cheguei na cozinha e o pai disse que eu ia fazer um ficasco com manga comprida num calor daqueles. Não dei ouvidos e disse que ia sair. Ele ficou quieto e eu fui para o quintal. Por mais que algo dentro de mim parecia querer me fazer explodir, eu sentia que não podia sair sem dar um abraço no meu pai. Afinal, ele não é mais um garoto, e na minha mente passeavam pensamentos de que eu tinha meu pai ao meu lado ali, à minha disposição e que daqui há um breve tempo eu posso não ter mais, coisas da vida. E ai não daria pra voltar atrás daquele abraço perdido na véspera de um natal. Ah...o natal. Precisava abraçar o meu pai. Andei uns 100 passos na volta do quintal. Até que finalmente entrei na cozinha e fui em direção à ele. "_Preciso te abraçar", disse eu. Ele abriu os braços e ali ficamos em silêncio num longo abraço apertado e sincero. Eu queria evitar de chorar e até tava conseguindo. Até olhar pra ele e disparar a frase: _"Não adianta, pai, fim de ano sempre me deprime." Desabei um pouco. E ele tentou contornar: "_Isso é da cabeça, filho, é da cabeça". Dei as costas e sai. Com a sensação de vontade cumprida fui até o tanque e lavei a cara. Sai rumo ao centro. Faltavam 10 minutos pra meia noite. No meio do caminho encontrei uma amiga na frente de sua casa com sua família, totalmente contagiados pela alegria e prestes a estourar uma champagne. Abracei todos e compartilhei daquele momento com eles. Uma garoa fina caia e eu segui rumo ao centro da little citty. Chegando lá me deparei com a rua principal praticamente vazia. De longe avistei o Mainar parado na frente de uma loja. Ele me desejou feliz natal, sem graça. Eu apertei a mão dele e disse "_Que natal, Mainar? Que natal?" Contei da minha angústia e ele se identificou. Diz que também sente parecido. No resumo da ópera éramos dois seres semi depressivos vagando pela rua numa noite de natal. Ah...o natal. Várias pessoas me abraçavam e desejavam-me um FELIZ NATAL, e muita saúde, e muita paz, e tudo de bom e blá, blá, blá. Nessa noite eu não consegui dizer FELIZ NATAL a ninguém. Apenas agradecia ou resmungava qualquer coisa. Demos uma caminhada pela rua. Achamos um boteco aberto, mas o dono já estava fechando e nem nos deu assunto. Fomos até um trailer e por lá ficamos. Compramos cerveja e começamos a beber. Aos poucos o local foi enchendo enquanto nós filosofávamos sobre a vida e seus detalhes. Dentre um assunto e outro, analisávamos pessoas aqui e ali. Estudamos um grupo de amigos com um casal sentado em uma das mesas. O casal parecia frio e distante. Estranho. Estavam sentados longe um do outro. A aliança na mão esquerda contava que eram casados mesmo. Comentei com o Mainar que jamais estaria nessa situação. Se tivesse com minha mulher ali, estaria COM ELA, confraternizando com todos, mas ao lado dela de verdade. Enfim, longas análises sobre casais, pessoas aparentemente solitárias, play boys dando banda de carro com som a toda altura pra impressionar e atrair as sem vergonhas pra um abate, meninas lésbicas mais adiante, uma velha tarada louca pra liberar tudo pra qualquer um, um bêbado chato pra caramba que atormentava as funcionárias do trailler desde cedo, um cachorro vira lata que também andava por ali. Sobre tudo isso comentávamos e opinávamos. Logo em seguida apareceu outro amigo, que parou menos de dois minutos por que tinha que ir para a casa da namorada. ok. Também comentamos sobre isso. Parecíamos duas fofoqueiras, só faltava o tricô. "Dali víamos o mundo", eu dizia. E esse era o nosso mundo naquele momento, em pleno natal. Ah...o natal. Nossos corpos não tinham a mínima vontade de sair dali. Era uma cena nostálgica. Bem mais tarde apareceu um outro amigo, o Jociel, que não mora aqui. Sentou-se com nós e ficou um bom tempo. Finalmente decidimos levantar e andar. A chuva caia fraca. Caminhamos um pouco. A rua estava lotada, havia nas pessoas espectativas das festas que estavam rolando ao redor. Fomos até a ponta da rua e ali nossos destinos nos separariam por aquela noite. Eu decidi ir embora, o Jociel ia dar uma última volta e o glorioso Mainar, que atualmente a gente chama de "nosso Mestre", ia ficar noite a dentro e ver no que dava. Ele queria ir para um dos bailes. Encheu o saco de um amigo dele que apareceu do nada, mas este não quis. Rimos muito quando o Mestre Mainar, ao aparecer uma mulher de uns trinta e tantos, solta a bizarra pérola de que "ela é um PITEL!" Ele disse isso! PITEL!!! Tá bom então. Depois dessa rimos muito e eu fui rumo ao lar. Pretendia ficar boa parte da madruga acordado assistindo a algum filme, mas não aconteceu. Cheguei e fui rumo ao sono. Pouco passava das 3h. Na manhã seguinte a missão era ir até Rio Grande almoçar na casa de uma tia, a Leda, que eu carinhosamente chamo de Ledão. Minha mãe já estaria lá e eu e o pai iríamos juntos. Eu ainda não estava com o humor recuperado e meu azedume ainda era notório. Sugeri que fôssemos de moto, assim racharíamos as despesas e não teríamos que pegar ônibus. Convite que foi aceito na hora. Passamos a moto na lancha. Na viagem de meia hora, passamos na parte de cima, que corria um vento bom. Fomos praticamente o tempo todo em silêncio. O Pai que volta e meia tentava puxar algum assunto, mas em vão. Eu ainda estava daquele jeito. Só resmungava respostas óbvias e não dava continuidade. Chegando em Rio Grande, fomos rumo a casa do Ledão. No caminho passamos por um carro de uma senhora com a trazeira danificada, certamente num acidente que havia ocorrido a minutos. Um policial rodoviário fazia o registro. Em seguida um carro cortou a nossa frente e eu tive que desviar bruscamente. Protestei contra ele com buzinassos. Mais adiante, em frente ao posto da polícia avistei um carro vermelho, não era qualquer carro, parecia uma ferrari, completamente destruído. Eis os acidentes de fim de ano. Chegamos no Ledão. Num começo tímido, foi lá que fui recuperando-me, finalmente. Minha mãe estranhou o fato de eu não ter aberto os presentes, quando perguntou-me o que eu tinha achado deles. A comida tava boa, mas só a sobre mesa já teria valido a viagem. O Pai, que se queixava do estômago de manhã cedo, agora repetia infinitamente o doce. Fiquei lá até um pedaço da tarde e finalmente me vi reerguido de novo. De volta com meu bom espírito. Dessa vez vim na barca dos carros, apreciando a paisagem e ouvindo nickelback no meu mp4. Cheguei em casa e aqui estou acabando de fazer esse relato. Agora vou concentrar-me um pouquinho nas minhas aulinhas de inglês...Finalmente livre da sombra do natal. Ah...o natal!!!

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