Madrugada de vento forte, daqueles ventos que zunem.. 3 da manhã surge o chamado importante.. ELA HAVIA SE IDO...
Depois de lutar bravamente contra uma doença fatal, com um dos maiores positivismos que já vi.. deixou boas lembranças a todos que a conheciam.
Forte como poucas pessoas.
No dia em que se foi, até a cidade apagou.
As folhas caíam das árvores de um jeito diferente.
A todos que ficaram ao lado dela até o fim, ficou a certeza de que tudo que podia ser feito, FOI FEITO.
Morrer não dói, inclusive no caso dela, morrer significou acabar com a dor. A morte dói pra quem fica.
Em acontecimentos como esse, que obviamente ninguém gosta de ter, mas que não é de todo mal participar, já que é inevitável.. observei o quanto se cresce em momentos assim. Desde meus lúcidos anos de vida, não foram muitos familiares que vim a perder. Num grau de proximidade maior, acho que minha tia foi a 4ª pessoa, e foi a que eu mais participei ativamente. Me senti feliz por ser útil em hora tão difícil. E cabe uma reflexão mais profunda sobre alguns aspectos desse assunto..por vezes um tanto tabu ainda...
Primeira coisa que me ocorre e que pude perceber... na hora do velório, a existência de pessoas que, quando sabiam que a tia estava doente - com uma doença de imensos riscos e poucas chances, já que estava em estado bem avançado - NUNCA MOVERAM UM FIO DE CABELO para ajudar em nada, mas aí no momento em que ela está morta num caixão, fazem um saragaço como se o mundo fosse acabar e "minha nossa senhora, por que? por que? por queeeeeeeeeeeeeeee?"; e fazem uma choradeira e um esparramo que, na minha opinião, é um exagero (pra não dizer outra coisa que podem tomar como ofensiva, -o que eu to me lixando, mas vou respeitar a ocasião-) ... Ou seja: -DÊ VALOR ÀS PESSOAS ENQUANTO ESTÃO VIVAS, DEPOIS DE MORTAS, NÃO ADIANTA)
Segunda coisa... se eu vir a ter uma morte "esperada", vou passar meus últimos dias escrevendo o discurso que deverão fazer no meu enterro, não quero nada de ladainha de passagens bíblicas nem nada do tipo... - MAS ISSO SOU EU! - Claro que sei que no caso dela e nos demais casos do mundo, é de prache e importante as palavras de consolo naquela hora, para os familiares (embora eu sinta uma certa hipocrisia que não voU saber explicar direito aqui, mas me parece mais um lance de aparência...embora acredito que estou errado - QUERO ACREDITAR) .. mas quando for minha vez, não quero que seja assim.
AS LÁGRIMAS MAIS VERDADEIRAS SÃO AS MAIS SILENCIOSAS..
Queridos amigos.. claro que essas coisas que eu to falando não são pra todos, ÓBVIO QUE TEM EXCESSÕES, e eu não seria TÃO IDIOTA ASSIM de generalizar.
Parabéns à FUNERÁRIA SANTO DEUS, que prestou um serviço digno e ao meu ver, positivamente surpreendente... demonstrando boa vontade, tomando conta de afazeres importantes como vestir a pessoa, tomar o cuidado de perguntar aos familiares sobre alguns detalhes, se está tudo ao agrado e enfim.. além de ter um ambiente limpo e adequado, disponibilizaram chá, biscoitos, etc... (tá certo que ganham e bem pra isso, talvez todas devessem ser assim, talvez até sejam, não sei, mas duvido muito) de qualquer forma, é justo registrar.
Uma outra coisa a se registrar, é que dona IZA SANTOS, minha mãe, nessas horas se AGIGANTA de forma incrível. Nunca vi na minha vida pessoa tão prestativa e generosa quanto ela. Desde que foi descoberta essa doença tão implacável, ela não sossegou, não dormiu, correu pra mil e um lugares, desbravou corredores de hospitais como quem busca saída numa mata fechada, ficou do lado da tia DO COMEÇO AO FIM, partilhando das mais dolorosas esperanças que eram tão contrárias ao íntimo realismo das coisas, tentando TUDO QUE ESTAVA AO ALCANCE E MAIS UM POUCO, pra que o quadro fosse melhorado, e por muitas vezes conseguiu... de tão exausta, quase desabou no final, mas estava lá, firme, sábia, aos pedaços e ao mesmo tempo inteira. Mesmo que na maioria das vezes não tenha seu esforço devidamente reconhecido, é sempre como uma âncora a que todos se agarram nas horas difíceis.
Outro destaque é dona MARLI, que tive o prazer de conhecer, infelizmente numa situação tão difícil, mas que também é outro exemplo de prestatividade e generosidade que não tem tamanho. No momento em que precisava, lá estava ela com uma disposição infinita, conversando com Deus e o mundo atrás de explicações, fazendo amizades por onde passava e com um celular que toca mais do que o de uma estrela de cinema - risos. É uma pessoa que transmite uma energia muito boa.
Vivemos em tempos tão corridos, somos em nossa maioria seres tão ocupados e tão preocupados com afazeres e trabalhos e como ganhar dinheiro e pagar nossas contas, e adquirir novas coisas ... e damos IMPORTÂNCIA MÍNIMA à nossas famílias, primos e irmãos, tios a avós, vamos tornando distante uma relação que deveria ser tão próxima... deixamos de compartilhar simples momentos, deixamos de organizar encontros ocasionais... e os anos passam, e A VIDA PASSA... e às vezes são em momentos como esse, de tristeza, de reflexão, que encontramos pessoas queridas que fizeram parte da nossa vida e que deveriam continuar fazendo. Não é de hoje que bato nessa tecla, por muitas vezes é preciso acontecer uma tragédia, uma desgraça, uma morte, pra que haja a união de uma família.. e depois disso, todos voltam às suas rotinas como uns robozinhos e o contato geralmente se perde novamente.. até QUE MAIS UM MORRA... Então se em horas ruins é possível sair de seus comodismos ou afazeres habituais, por que não o fazer também sem motivo, por iniciativa?!!!! É preciso cuidar mais da família. É preciso compartilhar mais de momentos simples... e acho que em grande parte, não é tanto falta de tempo, e sim, FALTA DE VONTADE mesmo!
Num mundo tão cheio de pessoas vazias, em meio à tanta futilidade, falta quem goste de REFLETIR, falta quem se atreva a PENSAR ...
Obrigado por me fazer refletir...
Vá em Paz, tia Almerinda...
