terça-feira, 27 de outubro de 2020

Morada do Diabo...

Leve-me, leve-me onde o Diabo está

Preciso me esconder 

Fico bem de preto em meio às névoas

 Deitado na cama de fogo

Senti esquentar uma parte de mim

Era falta de medo, me diziam

Aqui não tem muita coisa pra fazer

 E enfim eu vou poder descansar


Cante-me, cante-me para me elevar

Entrei numa casa que não era a minha

Portas em chamas e vidros quebrados

Estava marcado o dia do julgamento

Tantos conselhos desprezados

_Você escolheu não crescer - me diziam

Aqui não tem muita coisa pra fazer 

E enfim eu vou poder descansar


Castigo novo pela manhã seguinte

Fardos para carregar tornaram-se espinhos a apertar

Lúcifer é temido por aqui

Em noites trepidantes sem muita luz 

Era temporal na escuridão

Venha até mim

Com uma cabeça estranha numa bandeja vermelha

Eu não seguia muitas ordens na vida passada


onde estou? Onde estou?


Leve-me, leve-me onde o Diabo não está

Talvez eu tenha me precipitado

Joelhos sangrando de tanto orar

Cruz de madeira enterrada no altar


Procissão de fanáticos se aproxima

o mundo está louco 

Não estou mudo, só rouco

Salta minha veia quando tiro meu braço

Desconexo, desencaixo, 

Arraste-me mais pra baixo

Sem sequer anestesia 

 

Não tem nada de bom pra festejarmos por aqui

Parece familiar, não parece?

Olhares dilacerados, pupilas dilatadas

Traga o chicote 

Pois a noite sem fim irá começar

Mais gente está pra chegar


Convites em bonitos cartazes luminosos

Tão ludibriantes quanto belas dançarinas 

Que cobram caro pela pernoite

São tão sem sentimentos

Fecho meus olhos pra poder escutar


onde estou? Onde estou?


Leve-me, leve-me onde o Diabo fez morada

Preciso construir uma nova casa 

E acho que sei como começar

Quebrar com martelo meu baú de memórias

E jogá-lo às larvas de um vulcão


Antes de dar o último sinal cardíaco

Falhas são tão normais

Era pra ser um ambiente festivo

Com balões e belas garotas livres

Licores coloridos e alguma satisfação


Foi só diversão... RR

Dose Única...

 Veio até mim, e pela janela a vi chegar

Tão luminosa, com aquele brilho

Embora de uma maneira discreta

Passos miúdos na grama molhada

Desajuste adequado em retângulo

Quis ser sol, enquanto eu olhava a lua

Usava vestido tomara que caia

Provocava de um jeito peculiar

Diante de todo o bem estar

Que rodeava aquele lugar

Beije-me devagar - Dizia

_ Não temos tanto tempo ... 

Planos num papel

Sonhos de infância

Contava-me histórias sobre seus irmãos

Quando em estado de pouca sobriedade

Visita numa outra cidade


Eu a vi, tão longe

Tão longe daqui, de si, de antes

Agora ou depois

Ela é você disfarçada de outro alguém

Eu a vi, tão além

Tão além daqui, não sem antes

Fixar no meu mural 

Seus momentos contínuos 

Descoberta dos anseios

São seus textos que releio


Paraíso, Paraíso

calma além da imensidão

Paraíso, Paraíso

Pra onde o sol vai amanhã?

Sorriso com gosto de novidade

Ela move-se e dança no quarto

Do espelho percebo 

De canto de olho

Aonde isso vai dar...


Guardei pro fim o que tinha pra te dar

Explico-lhe em bilhete enquanto dorme

Pra que a magia dure pra sempre 

Precisa viver intensamente

Começo sem final.. 

Apenas o gosto do início...


Apenas o gosto do início... 

Fui embora, sem avisar

Que jamais iria voltar... RR

domingo, 25 de outubro de 2020

Aquário...

Preciso parar..

Me tornei uma máquina

muito eficaz e sem sentimentos

controles mecânicos

numa batida sem som

Onde me encontro

Numa linha reta, na ponta oposta

Me vejo distante

Tão bem quanto antes

Inferno astral

Dia normal

Céu sem estrelas

Flashes transparentes

Entrelaçado num abraço

Tão imaginário

Quanto você em Aquário


Rio nascente em fevereiro

Eu então, seu primeiro

Fecho negócios de ocasião

Virei uma decepção

Inesquecível, mas perecível


Antes e depois

quem sou eu afinal?

Conte-me nos dedos

Guardo seus segredos

Silenciosos tanto quanto 

O túmulo que existe escondido 

Numa vertente trancada

Que você chama de alma


Abaixo de remédios pra dormir

Se diz em estado de calma,

e que "vive em paz"

O que o universo nos traz?


Eu em Aquário

Nadando em círculos

Tentando fugir

Afogado e sem instintos

Danificado com sistema falho

Em processo de revisão


Que irá me consertar?

Num lugar mais calmo 

Onde ninguém vai imaginar

Sem controle do amanhã

Quis entender, apenas viver

Sem as fotografias

Nem áudios, cartas ou peças de roupa


Ouriços do mar

estive sem ar

Tanto tempo depois...


Traga-me outra taça de vinho.. Por favor.. RR