Olhe para ela
Menina doce com os olhos borrados
Olhe bem para ela
Ela esconde algo que você não sabe
Olhe fixamente para seu olhar perdido
Sabe o quanto passou por seus braços
alguém por quem sentia nojo
Ela carrega uma arma
No fundo da bolsa vermelha
Ela está cansada disso
Ela carrega uma dor
E está com o vermelho do seu sangue
gravado na sua mente
Com a foto na estante da sala
Ela carrega uma arma
Mas ainda não a usou
Ela tem sonhos
Mas não consegue refletir
Sua saída seria a única desgraça
Pior do que está
Não ficaria
Voar pra muito longe
dessa paranóia
Voar pra muito longe...
Voar pro infinito
pra longe desse inferno
Olhe para ela
Andando devagar
de volta pra casa
Olhe para as suas mãos
Daqui há pouco elas cometerão um erro
Ela carrega uma arma
Tem apenas três balas
Ela não sabe ao certo
mas acha que não está livre de usá-la
Mês passado quase foi
Mas em vez de uma bala perdida
O que foi mesmo
Foi a sua pureza até então
A garotinha não é mais virgem
A garotinha tá virando mulher
Com lembranças ruíns de aguentar
A garotinha não está mais aguentando
Ela se olha no espelho
A casa tem silêncio
mas noite passada seus gritos ecoaram
_E agora, querida! Eu quero de novo!
Passos pra trás
De novo não!
E lá vai ela...
Encolhe-se na cama
_Sua mãe tomou os remédios
e não vai acordar tão cedo.
Fecha os olhos
E tudo antes era tão simples
Quando não tinha outro homem
Na casa com sua mãe
E a vida era boa
Mas agora se tornou insuportável
O cheiro do padrasto lhe causa náusea
Ele a pega pelos braços
Ele fede
Ela chora
Mas ela carrega uma arma
Dessa vez não teve gritos
Apenas um tiro assolou a madrugada.
Olhe para ela
Tão jovem e com tanta bagagem
pesada de se carregar
Acusada, molestada, disvirginada
Voar pra muito longe
dessa paranóia
Voar pra muito longe
Olhe pra ela
menina doce com os olhos borrados
Olhe bem pra ela
Fugir pro infinito
Pra longe desse inferno
É tudo que ela quer...
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